terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Câmara dos deputados

ATHIÉ JORGE COURY (MDB – SP. Pronuncia o seguinte
discurso.)
Sr. Presidente:
Srs. Deputados:

Na comemoração da semana Pátria, sem dúvida, se irmanam
as aspirações mais ardentes do povo brasileiro em seus anseios por
desenvolvimento e segurança dentro dos quadros internacionais de paz.
Nosso povo sente esta consciência histórica que repousa
na unidade brasileira, de forma singular. O presidente do museu de literatura de
São Paulo “Monteiro Lobato”, escritor Jacob Pinheiro Goldberg, escreveu um
poema “ Cantata para o Brasil”, que está sendo publicado simultaneamente, em jornais
e revistas de todo o país, dado seu alto espírito de renovação literária e
cunho patriótico, numa tentativa de linguagem baseada nas melhores tradições
indígenas brasileiras.
Tanto linguísticas como etnólogos vêm apontando este
trabalho cultural como um serviço de alta pesquisa para a dinamização de nossa
literatura.
Queremos ler este poema para homenagear os
universitários, escritores e jornalistas brasileiros, na semana da Pátria:

“CANTATA PARA O BRASIL”
Rit e Une (1)
Para falar deste país
Queria beber cauim de milho
Ou mel de abelha silvestre.

Como se fala da terra em que se
nasceu,
se ama,
se chora,
sofre,
rim,estômago,nervos,cérebro, fantasias,
doença, perda,dor,martírio,fé ,
crença, ideologia, olhos.
Só na takuará (2)
Pode cortar o cordão umbilical.

Brasil é feito de samba e de luzinha
Escura no cinema,
Perdão e crime,
Volta seca e lampeão,
Um auto de amor e uma curva
Espinhenta na entrada da desilusão,
Tem duas almas esta terra de eu amo, como os Kayová, (3)
O ñee e o anguery (4)
Grandeza e miséria, companhia e solidão.

Mato Grosso, Minas Gerais, um choro de emoção,
Um terceiro de Ogum, Orixá, um canto de Iemanjá,
Numa noite aflita no mar ( se lembra?),
Êta zabumba meu boi,
Numa solidão desgraça,
Numa noite de carnaval,
Foi em Poços ou no Rio,
Na avenida ou no salão?
O samba do crioulo doido
De mistura com mil palhaços no salão,
Um prato de feijão com arroz,
A marcha de 32 quilômetros.
Nós somos estes infantes anjos patos
Amantes temem lutar.

Vivemos, morremos,
Gritando um nome qualquer,
Num comício em praça pública,
O coro monumental,
1.2.3.1.2.3.
1 vidrinho 2 cruzeiros,
Três por cinco cavalheiro.
Uma só razão, um só pensamento,
Um beijo por cê gigante e anão.
Noel Nutels, Orlando e Cláudio Vilas Boas,
Tiradentes, aqui não tem vez (porque será?)
Um corso Napoleão

Uma soma multiplicação,
Um botequim carioca, uma rua de Natal,
Um bronqueado metalúrgico,
Uma avenida de Osasco,
Os Suiá, os Txikão, Kamaiurá, trumái (5),
Uma notícia redonda de gás neón,
Informando que Carmen Miranda
Ressucitou
Nos discos de minha mão,
Que o coreto vai ficar
Inundado de catinga e rouge-baton,
Um risco de cumplicidade
Para a canoa descer um rio de petróleo azul,
Enquanto o urubu se afasta
Na festa do uuatsim (6).

Uma chaminé envernizada de fé e
Tropical
Uma feira em Santana, uma saudade em Curitiba,
Um frio no estômago em Manaus,
Bicho - preguiça, para te escrever, só
Uma noite de juízo universal ,
Um pajé sugando um mapa – mundi,
Mãe Menininha de Gantois,
Tudo que quis, quero e hei de querer,
Ausubá (7),

Deus de mim, por querer
Mbaé r-endubá (8), a voz do meu Brasil,
Que diz num ritmo de cavaquinho,
Kuarasy e –Í (9)!

Não me engane, Pai João e Índio Velho,
Embaúba, catuaba, guaraná (10).
Capoeira, mau – olhado, bem – olhado.
Co YUY NANDE RETAMA (11),
De dia, de noite, no frio calor,
Nos morros sem fim,
No céu de anil, de cimento,
Tim-Tim”


(1) Sol –
lua – língua dos índios Xingu.
(2) Bambu,
para os guaranis, costume índio,
(3) Grupo
indígena,
(4) Parte
sublime e parte má da alma.
(5) Grupos
indígenas
(6) Cerimônia
do Xingu.
(7) Compadecendo-se,
em tupi.
(8) Ouvir,
em tupi.
(9) Está
fazendo sol.
(10)
Ervas medicinais brasileiras.
(11)
Esta terra é nossa – em guarani. ( Frases de
Raposo Tavares aos espanhóis em Gauíra).

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